A utilização de rejeitos da indústria e da mineração pode ajudar a baratear em até 30% uma tecnologia de engenharia que começa a ser adotada no Brasil, as estruturas multilaminares de concreto. “Estamos em processo de ‘criterização’ junto ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) de um projeto que utiliza o rejeito da mineração para substituir o concreto nessas estruturas. Caso o resíduo saia de graça (um produtor poderia recolher o material nas mineradoras do Estado), isso diminuiria entre 30% e 40% o custo da construção”, conta Romero Camargos Fabel, proprietário da Laminus Engenharia.
Um estudo da Secretaria do Estado do Meio Ambiente de dezembro de 2015 mostra que apenas em 2014 foram gerados em Minas Gerais 4,74 milhões de toneladas de rejeitos proveniente de beneficiamento mineral.
Enquanto o rejeito da mineração ainda é projeto, outros materiais recicláveis já são utilizados nessas estruturas, segundo o engenheiro Anselmo Duarte, da construtora Vila Ruiva e que detém a patente das estruturas multilaminares de concreto no Brasil. “Já utilizamos em nossos projetos o resíduo da construção civil. Também podemos utilizar a borra de fundição que vem de altos-fornos da metalurgia. Além disso, a nossa perda na construção com esse tipo de estrutura é quase nula. A gente pode dizer que se trata de um material ecológico”, afirma.
A apresentação da técnica à Fiemg está marcada para acontecer no mês de fevereiro e busca, além da aprovação da entidade, levantar investidores para popularizar o projeto no Brasil. “Buscamos financiamento para colocar as lâminas utilizando o rejeito do minério em produção”, conta Romero. Segundo ele, na China já existe o aproveitamento do minério de ferro em projetos similares ao seu, mas ele acredita que no Brasil o projeto é pioneiro.
Entenda. As estruturas multilaminares de concreto convencionais já são utilizadas no Brasil. Romero Fabel explica que elas funcionam como “peças de lego”. As paredes são construídas como um grande “tijolo” formados por diversas lâminas de concreto. Entre essas lâminas, já são aplicadas as tubulações necessárias para a parte elétrica e hidráulica.
Utilizações
Transporte.
Pontes mistas, elevados, passarelas, passagem de nível, contenções e dormentes
Energia. Barragens para pequenas hidrelétricas, projetos para casas de força para subestações, rebaixadores de tensão, câmaras coletoras de óleo, paredes corta-fogo, torres para linhas de transmissão, canaletas de concreto.
Exploração de Petróleo. Plataformas de processamento de petróleo, contêineres de concreto, instalações prediais definitivas ou provisórias, proteção de tubulações de gasodutos e oleodutos
Agronegócio. Moradia para trabalhador rural
Segurança. Casa com uma parede multilaminar, resistente a impactos até de fuzis tipo AR-15.
Economia
Convencional. A construção de uma casa com a estrutura multilaminar de concreto oferece uma economia de até 20% na comparação com uma construção convencional, segundo Anselmo Duarte.
Casa pode ficar pronta em até 48 horas
A utilização de tecnologia Multilaminar de concreto permite que uma residência seja montada em até 24 horas, garante o engenheiro Anselmo Duarte, da construtora Vila Ruiva. “É o tempo necessário para que as peças que já chegam prontas ao local da construção sejam ligadas”, afirma.
Após esse prazo, segundo Anselmo, é necessário apenas solicitar as ligações de energia elétrica e água para utilização da residência. “Outra possibilidade é utilizar a energia solar para garantir água quente e energia”, conta.
O transporte das peças dos módulos que pesam, em média 10 toneladas cada, é o que pode sair nesse projeto. “Um dos maiores investimentos é no transporte dessas peças, que não é feito por qualquer caminhão”, explica. A estrutura também dispensa fundação. “Basta terraplenar o terreno onde a casa vai ser montada”, diz.
Redução de grandes depósitos de resíduos é a boa notícia.
Além da redução de custos, a reutilização de rejeitos tem a vantagem de reduzir o volume dos grandes depósitos de resíduos da atividade econômica, como os distritos industriais, no caso da areia de fundição, ou como as barragens da mineração, como a de Fundão, da Samarco, que se rompeu em novembro do ano passado em Mariana.
A Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) afirmou, via nota, que concorda que utilizar a areia descartada de fundição (ADF) pode ser benéfico para o ambiente, pois evita que areia dos rios sejam retiradas da natureza. “Desde que haja uma normatização que traga uma segurança ambiental, a reutilização de resíduos é sempre bem vinda. Vale lembrar que um dos princípios da Política Nacional de Resíduos é o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania”, declara a nota.
“A gente sabe do impacto que a extração de areia tem no ambiente. A utilização da ADF poderia diminuir significativamente isso”, opina a advogada do setor jurídico ambiental da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Paula Meireles Aguiar.
A extração da areia é feita principalmente nos leitos dos rios, que é necessária para o equilíbrio da vegetação, segundo informa a Secretaria de Meio Ambiente.
O preço da areia também é uma preocupação para o presidente do Sindicato da Indústria de Fundição de Minas Gerais, Afonso Gonzaga. Segundo ele, hoje, a indústria de fundição depende 100% da areia que vem de São Paulo. “Com o valor da compra, somado ao frete e o descarte, a areia é responsável por 30% do custo total da indústria de fundição do Estado”, avalia.
O engenheiro e diretor da Associação Brasileira de Fundição (Abifa), Fábio Garcia, conta que indústrias de outros países desistem de vir para o Brasil por causa do custo de compra e descarte da areia. “É mais caro do que a mão de obra”, conclui.
Fonte: O Tempo (https://www.otempo.com.br/economia/rejeitos-viram-at%C3%A9-moradias-1.1223769)